“Comandar muitos é o mesmo que comandar poucos. Tudo é uma questão de
organização” Sun-Tzu
Todo mundo sabe que uma mudança
de endereço tem dia marcado para acontecer, mas geralmente não tem data certa
para terminar. E depois que tudo foi entregue, começa a parte de abrir as
caixas e colocar as coisas no lugar. Nessa hora a gente entende o quanto é
importante um mínimo de organização na fase pré-mudança: ficamos dias sem
encontrar aquela roupa, ou aquele cabo do notebook, e só quando tudo está no
devido lugar temos a sensação de que a mudança, enfim, terminou.
Essa associação entre a
organização dos objetos e o sentimento de bem-estar em casa é uma das bases do
método KonMari, desenvolvido pela japonesa Marie Kondo e conhecido em todo o
mundo por seus livros “A Mágica da Arrumação” e “Isso Me Traz Alegria”, publicados
no Brasil pela Sextante.
Logo que voltei à Divinópolis,
Marie Kondo estava em alta na minha casa: minha mãe havia comprado os dois
livros e, como de costume, queria muito que eu os lesse. Não havia melhor momento:
recém-chegada, precisava dar um jeito de me organizar no novo espaço. A
diferença é que, ao contrário da maioria das pessoas nessa situação, eu tinha
menos objetos que o necessário para ocupar meu novo quarto. De forma singular,
eu me encontrava na situação oposta daqueles que procuram a personal organizer – eu tinha espaço
sobrando.
Com o início das aulas e as
atividades letivas do semestre, acabei deixando a Marie Kondo de lado (a essa
altura, carinhosamente já sendo chamada pelo nome). Com o fim das atividades
presenciais na faculdade, comecei a passar mais tempo em casa, e aí a questão
da organização voltou à tona. Para que eu pudesse ter espaço, outros o perderam,
obviamente. Sendo assim, nada mais justo que eu tentasse ajudar àqueles que
tinha prejudicado organizando seus objetos. E foi então que, retomando a
leitura, entendi outra das bases do método KonMari: ninguém pode arrumar suas
coisas por você.
Na verdade, não está escrito
dessa forma nos livros. Mas o título de um deles já sugere que aquilo que “me traz alegria”
não é necessariamente aquilo que “te traz alegria”. Ou seja, cada um deve
arrumar as próprias coisas, a própria casa. Essa postura é consequência da
principal ideia do método: nós só devemos ter ou manter aquilo que nos faz
feliz. E ninguém pode nos dizer o quê nos faz feliz, cabe a cada um escolher os
objetos que lhe transmitem felicidade – por isso a arrumação é pessoal e
intransferível.
Partindo dessa ideia central, a
autora a desenvolve para mostrar que nos tornamos desorganizados e acumuladores
quando não seguimos o princípio de manter apenas o que nos faz bem. O
desdobramento disso é ainda mais prático: ao manter apenas o que nos traz
alegria, devemos descartar o restante. No fundo, o método de arrumação de Marie
Kondo contém em si a proposta do desapego, do descarte de objetos que perderam
sua função ou utilidade, mas que sobretudo, não nos agrega boas vibrações.
É impossível não associar a
filosofia do livro às filosofias orientais sobre a transitoriedade da vida e o desapego
com o mundo material. Mas apesar dos dois livros tratarem do mesmo assunto – a “mágica”
da arrumação – é fácil perceber a diferença
entre eles. O primeiro estabelece os princípios do método: manter apenas ‘o que
te traz alegria’; a separação por categoria, não por localização; o ‘dia da
organização’ como evento especial; o descarte em primeiro lugar e, por fim,
como a organização transforma sua vida. Já o segundo livro, como o próprio nome
diz, é um “guia ilustrado”, ou seja, contém indicações visuais e dicas de como
aplicar diretamente o método KonMari.
De certa forma, o primeiro livro
está contido no segundo. E é por isso que, se tivesse que indicá-lo a alguém,
eu antes perguntaria o que a pessoa deseja com a leitura do livro. Aqueles que
já estão decididos a começar uma arrumação em casa podem optar pelo segundo,
afinal, já estão conscientes da necessidade (e dos benefícios) de arrumar a
casa seguindo um método de organização. Mas para quem não tem muita certeza do
que gostaria de fazer, ou quer descobrir uma maneira de organizar-se, o
primeiro livro é perfeito.
No meu caso, os dois livros se
complementaram: usei as dicas e a metodologia do guia ilustrado para organizar
o guarda-roupa que eu tinha “desalojado” e os armários com objetos que mais
usaria no dia a dia, enquanto que “A Mágica da Arrumação” me fez refletir sobre
o espírito de acúmulo familiar, e como eu poderia lidar com isso.
Marie Kondo não precisou me
convencer de como a organização transforma nossa vida. Há muitos anos percebi
que arrumar guarda-roupas e armários me acalmava, e que as ideias vão se
organizando à medida que as coisas também se organizam. Desenvolvi assim o que
para alguns seria uma leve manifestação de TOC (Transtorno Obssessivo-Compulsivo),
mas que para mim nada mais é do que reproduzir a sensação descrita no primeiro
parágrafo: quando tudo está no devido lugar, a mudança enfim terminou.
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