quinta-feira, 26 de maio de 2011

Percursos Literários

Que caminhos um livro percorre até chegar às nossas mãos?
Não digo a história, sua elaboração, tudo que o autor vive antes, durante ou depois da escrita. Esses questionamentos merecem um post à parte, quem sabe futuramente.
Me refiro ao exemplar em si. Por onde andou o livro que agora estou lendo?

Se é um livro que acabei de comprar, quem o folheou antes? Será que alguém chegou a pensar em comprá-lo, mas desistiu? Quando pegamos um livro emprestado, são muitas as possibilidades– com quem ele esteve antes, se gostou ou não da leitura, e por que pegou emprestado. Se o livro é da biblioteca, vamos ao infinito! Quem o pegou antes? Pra quê? Como ele chegou à biblioteca? Quem foi insensível o bastante para riscar suas páginas?

O último romance que li despertou em mim essas perguntas. Acho que os livros têm trajetórias próprias, e acredito até em um tipo de destino que eles teriam que cumprir. Ou de que outro modo explicar aquela poesia que lemos por acaso no começo do namoro, ou mesmo durante a pesquisa, que algo nos diz para entrar naquela fileira de estantes da biblioteca e encontramos “O” autor?

Pois bem. Tinha ido almoçar com uma amiga a quem devia uma visita não era de hoje. A oportunidade surgiu, e lá fui eu conhecer sua casa. Foi um domingo cinzento, bem o clima de nossos humores. Era como se Djavan estivesse cantando para nós: um dia triste, um bom lugar pra ler um livro...

Historiadores são seres curiosos por livros. Quando conhecemos a casa de alguém, é claro que fazemos o percurso tradicional: começamos pela sala, cozinha, depois o quarto. Mas invariavelmente queremos ver a biblioteca – seja ela uma estante solitária em algum ponto da casa, ou um cômodo a parte, sonho de consumo de todos.

Assim, ao parar e ver os livros da minha amiga, eis que ela retira alguns da estante, que seriam meu,s e os devolve. Devo confessar que minha relação com empréstimos de livros é oscilante. Os mais preciosos não saem de jeito nenhum, enquanto que outros podem ir voltar sem que eu perceba. Dos que estavam com ela, alguns eu lembrava de ter emprestado. Outros não. Esse romance era um deles.

Chama-se A Campanha, de Carlos Fuentes. Quando estava no colégio, li Aura, do mesmo autor. Mas não lembrava de ter lido esse. E também não sabia por que o havia comprado. Minha amiga contou que estava com ela desde que tínhamos estudado História da América Independente. Fazia tempo, mas nunca é tarde para um ler.

Comecei a lê-lo e agora, depois de terminar, fiquei encantada. Mas não conseguia parar de pensar “como esse livro é meu?” E foi então que reparei com mais cuidado no exemplar.

Ele tem as páginas da parte de cima um pouco manchadas. O início daquele cheiro característico que os livros vão adquirindo com o tempo. Tem também aquelas ondulações típicas de quando eles ficam compactados na estante. E o mais importante, que levou à solução do mistério: é de 1996.

Eu não teria como comprar esse livro nesse ano. Sem querer entregar minha idade, eu era então uma criança. Originalmente, foi publicado em 1990, com a primeira edição brasileira pela Rocco em 1996 (esse é o meu exemplar). Nessa época, minha mãe viajava anualmente (ou quase) ao Rio de Janeiro, para um congresso sobre Processo Civil. A Rocco é uma editora carioca. Voilà!

O livro deve ter sido comprado por ela, e não sei se chegou a lê-lo. Quando estava na graduação, devo tê-lo pego para fazer algum trabalho, mas acabei escolhendo outro tema e autor, e então o emprestei. Essas são conjecturas que me levaram a refletir sobre seu retorno agora, depois de ter estudado o processo de independência da América Espanhola –  tema do livro – e de ter viajado à Buenos Aires em fevereiro – justo onde a história começa.

Um comentário:

  1. Adorei a idéia do blog! E adorei o primeiro texto! Acho que todos, um dia, já nos deparamos com esse questionamento do livro como objeto. Beijos! Mi

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