sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Palavras não falam


Vamos começar 
colocando um ponto final.


Já nem lembro há quanto tempo me prometo um post novo no blog. Eu poderia elencar aqui mil explicações: seriam desculpas, e não justificam o abandono desse espaço nos últimos meses.

Entre a última postagem e hoje, muita coisa aconteceu. A vida, “dura, sofrida, carente em qualquer continente” aconteceu nesse período. Ela sempre segue em frente, e aos poucos a gente percebe que é “boa de se viver em qualquer lugar”.

Vários assuntos surgiram, tanta coisa legal que eu queria compartilhar. Perdi um pouco o foco: no querer tudo, não sabia escolher mais nada. Pensar, conversar, refletir, ler e escrever se tornaram “verbos primos”, como aqueles números que são impossíveis dividir – exceto por um e por ele mesmo.

Assim, gastei boa parte desse tempo tentando separar essas atividades que inevitavelmente acontecem juntas. Eu lia livros, pensava sobre eles, conversava com amigos e refletia sobre tudo. Mas não materializei em palavras essas experiências. Arrependo-me, pois como disse Zygmunt Bauman, “um dia sem escrita parece um dia perdido ou criminosamente abortado, um dever omitido, uma vocação traída.¹”

Nessas idas e vindas, me vi questionando por que escrever. Questionei os motivos desse ato, se de fato é um exercício, qual seu grau de narcisismo, a necessidade de expor (ainda mais aqui) os pensamentos. A resposta veio da música, essa arte tão irmã da literatura:

Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras


Se ler desperta a paixão pelos livros, escrever é a canalização desse impulso. E aqui, o espaço em que conjugo os dois verbos: leio, logo escrevo.











1. BAUMAN, Zygmunt. Isto não é um diário. Rio de Janeiro: Zahar, 2012

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