Sim, eu li a trilogia Cinquenta Tons de Cinza. Eu também assisto Blockbusters, como o novo 007. Não, não fui ao Seminário sobre Livros da Biblioteca Brasiliana. E atualmente, meu livro de cabeceira é a autobiografia da maratonista Paula Radclife. Nada disso me faz ser menos inteligente ou menos intelectual. São apenas “lados B” da minha personalidade, e que não deveriam ser encarados tão de soslaio assim.
Ler a tal trilogia me fez pensar em tudo aquilo que temos de gostar escondido. Pensando nos meus livros, esses “volumes cinzentos” talvez causem certa vergonha ao serem vistos na estante. Dane-se! Comprar livros, organizá-los, decidir onde devem ficar: nada disso deve ser feito com base na opinião alheia. E se ver a biblioteca de alguém é perceber sua personalidade, ótimo! Acho que a minha vai ser bastante intrigante de analisar.
É claro que existem algumas convenções: filmes do tipo do agente secreto, mega-produções hollywoodianas, apenas uma por mês (mais que isso, o fígado reclama). E mesmo livros do tipo “mais vendidos”, como o citado acima, só são permitidos em situações extremas – Petrópolis, 3 dias chuvosos... Enfim, são situações-exceção, para confirmar a regra. Porque não dá pra ser acadêmico o tempo inteiro (é muito chato!).
A leitura dos Cinquenta Tons me lembrou uma história. Quando estava fazendo o estágio de licenciatura, combinei com a professora da escola de falar um pouco em uma aula. Os alunos tinham estudado Revolução Francesa, então decidi por uma abordagem diferente dentro do tema que tinham estudado. Com base num pequeno trabalho chamado “Esses livros que se lêem com uma mão só”, falei sobre o analfabetismo na França do século XVIII, e a difusão da literatura pornográfica entre leitores e não-leitores. O livro continha algumas ilustrações, e os alunos se divertiram – como adolescentes que eram, o tema interessava, e muito!
O sucesso dessa trilogia trouxe de volta essa lembrança e uma constatação: pornografia faz sucesso. Seja no século XVIII ou em 2012, as pessoas se interessam por sexo. O que me espantou, ao colocar o livro na estante, foi pensar que eu me sentiria envergonhada quando alguém o descobrisse ali. Da mesma maneira que nos sentimos envergonhados de admitir que não vimos o-mais-novo-filme-francês-que-é-sucesso, não lemos a atual promessa de renovação da historiografia, ou ainda que eventos acadêmicos podem ser entediantes. A gente tem que esconder bem certas coisas, porque não “combinam” com a gente.
E quem disse que temos de ser combinadinhos? A moda, sempre tão cheia de certo/errado, já aboliu as combinações perfeitas faz tempo. E patchwork, na minha opinião, é a coisa mais linda de se ver! Então, por que insistimos em sermos perfeitos na vida? Não podemos ter gostos múltiplos, opiniões variadas, e sempre mudando de um lado para o outro? Como diz o título de um livro que eu adoro, “Tudo Depende de Como Você vê as coisas”.