Vamos começar
colocando um ponto final.
Já nem lembro há quanto tempo me prometo um post novo no
blog. Eu poderia elencar aqui mil explicações: seriam desculpas, e não
justificam o abandono desse espaço nos últimos meses.
Entre a última postagem e hoje, muita coisa aconteceu. A
vida, “dura, sofrida, carente em qualquer continente” aconteceu nesse período.
Ela sempre segue em frente, e aos poucos a gente percebe que é “boa de se viver
em qualquer lugar”.
Vários assuntos surgiram, tanta coisa legal que eu queria
compartilhar. Perdi um pouco o foco: no querer tudo, não sabia escolher mais
nada. Pensar, conversar, refletir, ler e escrever se tornaram “verbos primos”,
como aqueles números que são impossíveis dividir – exceto por um e por ele
mesmo.
Assim, gastei boa parte desse tempo tentando separar essas
atividades que inevitavelmente acontecem juntas. Eu lia livros, pensava sobre
eles, conversava com amigos e refletia sobre tudo. Mas não materializei em
palavras essas experiências. Arrependo-me, pois como disse Zygmunt Bauman, “um
dia sem escrita parece um dia perdido ou criminosamente abortado, um dever
omitido, uma vocação traída.¹”
Nessas idas e vindas, me vi questionando por que escrever.
Questionei os motivos desse ato, se de fato é um exercício, qual seu grau de
narcisismo, a necessidade de expor (ainda mais aqui) os pensamentos. A resposta
veio da música, essa arte tão irmã da literatura:
Eu não escrevo pra ninguém
e nem pra fazer música
E nem pra preencher o
branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não
sei
E me faz ver o que não tem
palavras
Por mais que eu tente são
só palavras
Por mais que eu me mate são
só palavras
Se ler desperta a paixão
pelos livros, escrever é a canalização desse impulso. E aqui, o espaço em que
conjugo os dois verbos: leio, logo escrevo.
1. BAUMAN, Zygmunt. Isto não é um diário. Rio de Janeiro: Zahar, 2012