Janeiro passou, carnaval veio e
foi e, de repente, já estou nos 45 do segundo tempo de fevereiro – porque ano
bissexto vai até os acréscimos! Quando eu vi, não estava mais cumprindo aquela
promessa de virada de ano: “publish or perish”. Mas ainda bem que tem a
prorrogação...
Se eu proponho que esse espaço
concentre minhas reflexões pessoais, talvez eu devesse começar a refletir mais
por escrito. Porém, como canta a Tiê, “palavras não bastam”. E hoje, me deparo
com o problema de ter um blog: o quanto revelar de si mantendo o mistério, a
discrição, e sobretudo, a privacidade. O que eu quero falar versus o que o
outro entende do que escrevo. E também, o quanto de verdade coloco nos meus
escritos.
É triste encarar que não consigo
produzir conteúdo suficiente para o blog por um simples motivo: não leio tanto
quanto precisava. Tenho mantido a média de um livro por mês, às vezes mais, às
vezes menos, dependendo do gênero e do estilo. Em algum momento quando pensei
esse espaço, estabeleci que isso não era suficiente. Uma vez que esse não seria
um blog de literatura, resenhas ou críticas, eu deveria conhecer mais sobre
livros – só que nem eu mesma sabia o que isso significava.
Pois, começando semana passada o
último ano para mudar de régua (leia-se “fiz 29 anos”) resolvi mandar às favas
esses meus pré-requisitos e pré-conceitos. Escrever para mim é um prazer, que
veio ao lado de outro, inseparável: ler. Logo, se leio, escrevo. E todo
professor lê muito: notícias, trabalhos de alunos, livros didáticos, textos de
formação. Por que não escrever sobre eles? O que me impede de refletir por
escrito sobre o meu cotidiano não-literário? Por que raios eu achava que tinha
que “acumular conteúdo e conhecimento” para escrever?
Perceber que estou “quase nos 30”
me abriu os olhos para algumas amarras que venho carregando comigo. Ter sempre
algo inteligente para dizer, manifestar opinião sobre tudo, conhecer filosofia,
sociologia, ler os clássicos, assistir sempre aos filmes cults e alternativos.
Ser boa filha, boa professora, correr cada vez mais e melhor, cozinhar como uma
chef, entender de vinho, alimentação saudável e fotografia. E por aí vai... A
vida foi ficando chata, uma (auto)cobrança sem fim e, o pior: sem motivo. Perdeu
a graça.
Uma hora a gente cansa disso
tudo, né? E não basta 30 dias de férias pra gente se reciclar e tentar rever
nossas posturas. Também não são 30 minutos de meditação ou de exercício físico 3
vezes por semana que vão solucionar o problema. Pra mim, é quando a gente
faz aniversário que alguma coisa muda dentro da gente: mais um ano pra gente
aproveitar a vida - a nossa, e de quem a gente ama.