Na escola em que trabalho existe uma “Sala de Leitura”. Como não conheço nenhuma outra escola da prefeitura (quando fiz os estágios da licenciatura fui para escolas públicas da rede estadual) não sei dizer se nas outras escolas também existe esse espaço.
Alguns professores chamam-no Biblioteca. Outros, pelo nome oficial. Fisicamente, é o lugar que abriga os livros da escola: estantes ocupando as paredes, do chão ao teto, com mesas redondas e cadeiras dispostas para pequenos grupos. É usada por um(a) professor(a) responsável, espécie de titular, que tem horários pré-definidos para receber cada turma. É na Sala de Leitura que também são realizadas as reuniões da Coordenação Pedagógica e Direção com os professores, chamadas JEIF.
O fato é que me vi pensando esses dias por que o nome Biblioteca foi substituído por Sala de Leitura. E acho que essa substituição tem alguns significados. O fato de os alunos terem um dia e horário específico para frequentar esse espaço revela uma preocupação pedagógica em fomentar a leitura entre os estudantes. Mas até que ponto esse novo componente curricular não torna algo que deveria ser iniciativa própria em uma imposição? É claro que o acesso dos alunos aos livros é totalmente livre: eles podem pegar emprestado o que se interessarem, ir fora do horário de aula, enfim, frequentar o espaço como uma biblioteca – o que ele também é.
Mas o nome Sala de Leitura me parece também uma instrumentalização daquele lugar. Biblioteca é lugar de livros. Com alguns (poucos) leitores. Numa sociedade em que livros são caros, e apesar do nível crescente de escolaridade ainda se lê pouco, ter uma biblioteca em cada escola parece temporalmente deslocado. Talvez, faria mais sentido, pelo menos didaticamente, um lugar reservado à leitura, e não necessariamente aos livros. Que eles estejam lá, mas que o principal seja o ato de ler. E as reflexões decorrentes dele.
Fiquei pensando nesse nosso costume de ter lugares para as coisas, e locais para determinadas atividades. No caso dos livros, ter um espaço reservado à eles em casa. Decoradores e arquitetos, quando têm um projeto de alguém bibliófilo em mãos, rapidamente resolvem a questão colocando um linda estante na sala: os livros se tornam objetos de decoração. Escolhem alguns, geralmente de arte, bem grandes, ou de viagem, para colocar na mesa de centro, e pronto: cada livro em seu lugar. Se esquecem que quem gosta de livros não liga para a estética da sua organização. O importante é a ordem em que estão colocados – e sempre adquiri-los.
Já falei anteriormente do deslocamento geográfico que meus livros sofrem dentro de casa. E confesso que o que mais gosto é dessa indisciplina situacional: eles estão em todos os lugares.
A leitura pode ser um pouco assim: insistem em colocar uma poltrona, fazer um canto de leitura. A gente vai e se esparrama no sofá, na cama, na rede. Lê onde dá. Espero que na escola algum dia seja assim: que continue a existir a Sala de Leitura. E também uma Biblioteca. E livros nas salas. E no pátio. Por que não nos banheiros? Em seu lugar, só os alunos e professores.