“Tem gente que vem pro mundo de caminhão e tem gente que vem de bicicleta. Eu sou da turma da bicicleta.” É com essa frase de Conceição, dona de um salão de beleza, que Leila Ferreira começa seu livro A Arte de Ser Leve. A metáfora serve para mostrar o peso daquilo que carregamos vida a fora, e como deveríamos, às vezes, levar menos coisas. A própria autora admite que está na turma “das carretas com excesso de carga”. Eu, quando li essa frase, pensei logo num caminhão-baú: quem quiser roubar a carga, vai ter que levar todo o conjunto.
O livro fala como que gentileza, bom humor, descomplicação, desaceleração e convivência, são fundamentais para uma vida mais leve, deixando o mundo “menos opaco, menos pesado, menos inerte”. Conseguir leveza na vida é um exercício constante, de se sentir melhor consigo mesmo, internamente – e não nas aparências, como muitos o fazem. Aliás, Leila atenta para esse perigo, “de emagrecer o corpo e ficar com obesidade mórbida de espírito.”
Uma vez terminada a leitura do livro, ele retornou à estante (deslocamento espacial que mencionei no post anterior). Ou pelo menos, era essa a intenção. Entre o banheiro e seus companheiros, acabou por fazer uma parada na mesa da cozinha – móvel muito significativo. Pra mim, o lugar das refeições é o mais importante de uma casa. Onde se preparam os alimentos é que a energia circula. Não à toa, as conversas, reuniões e decisões de família acontecem ao redor da mesa da cozinha. No meu caso, aquela mesa de café mineiro, com bolo, rosca, broa, queijo...
Assim, ele agora está dividindo o espaço com outros textos e coisas importantes, que precisam estar à mão. Há alguns dias, pensei em devolvê-lo à minha mãe, dona original, e então comecei a separar outros livros que julguei poderiam ser mandados para o endereço mineiro. Dos livros de história, tenho agora comigo só aqueles que considero necessários à pesquisa. Mas mantive por perto alguns de literatura que me são caros (poemas e contos, em sua maioria). Conclusão: ganhei o espaço de uma prateleira para livros, e a mala de viagem cheia deles.
Foi nesse momento que lembrei da leveza que fala Leila Ferreira. E por fim, acabei deixando o livro à mão. Vira e mexe, leio um capítulo ou outro, e fico pensando em tudo que tenho carregado (material e afetivamente) vida a fora, fruto de escolhas conscientes ou não. Penso no tamanho, e principalmente no conteúdo, dessa bagagem. Em como a limitação de peso das companhias aéreas é o que impede de carregarmos mais que o necessário. E em como minha mala de viagem sempre volta cheia apesar de ir quase vazia. Dessa última volta para casa, fui cheia de livros. Voltei só com um.